sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Registros



Ontem, debruçada sobre aquela velha janela de carvalho observei um dos mais belos pores do sol junto a ti. Seus dedos contornavam os meus e em conjunto éramos revestidos por aquela luz incandescente e divina. Meu sorriso favorito estampava-se em seu semblante, e por um momento senti vontade de desafiar o tempo, de paralisá-lo. Talvez tenha conseguido, ao menos em minha mente. Mas logo os seus lábios contraíram-se em uma de minhas têmporas e enfim a noite chegara, levando você embora assim como ao sol.
Cochilei um pouco, aconchegada no couro da poltrona em um dos recantos daquelas quatro paredes, tentando prender-me um pouco mais a ti.
Mas hoje, quando despertara me dera conta que tudo mudara. Ah, hoje...
Já não sei mais em que me apoiar. Já não sei mais o que procuro quando encontro o teu olhar. Algo passou a alimentar-se de meu sangue, a sugar as minhas únicas esperanças. E agora, nada mais digno que a dor e o vazio me consomem. Tudo parece tão incerto: as suas escolhas, as minhas escolhas. O seu doce toque em minha face, o seu cheiro irresistível, que marcou cada fração de segundo que te acompanhei, tudo isso tornara-se insignificante. Aqueles momentos agora são apenas mais algumas gravações em minha memória, como aquelas que costumávamos assistir e que com o tempo se extraviaram.
Deângela

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