sexta-feira, 25 de junho de 2010

Rabiscos e rachaduras no reflexo pálido



Acordei e desejei que eu estivesse morto. Reviravoltas constantes em minha mente me atordoavam. Sem saber o que fazer, sem saber o que pensar. Nada. Então você apenas faz, pensa, e age. Baseio-me no passado, mas tudo o que faço no presente parece vazio, como se as coisas não tivessem uma contemplação, como se esse significado só viesse com o tempo, que talvez não exista.
Dar um tempo por você, criar um mundo novo e nele permanecer por horas e horas olhando as variadas formas que as nuvens tomam, ou simplesmente manter-se inerte até a minha dor de cabeça entorpecer. Era isso que eu queria. Um mundo rabiscado pelos meus lápis de cores, antigos e desusados, onde o vento soasse como os meus suspiros. Onde o tempo fosse explícito e suficiente para que eu pudesse contar os anos passados, cada dia, a cada segundo.
O frio transformava minha respiração em pequenas nuvens, e a minha visão desvanecida aos poucos voltava à tona, fosca como sempre. Dez mil planos de propagação dos meus passos prodigalizam-se em um único piscar de olhos. Era tudo tão sintético, mas era tudo que eu queria ter.



sábado, 19 de junho de 2010

Limítrofe


Um mistério para você, um hábito para mim. Eu consigo enxergar o seu lado cego, e é por isso que eu vejo, porque seus olhos estão fixados no coração, libertados da escravidão mental.

Embora as colinas ainda sejam um pouco turvas, eu ainda consigo ver o fim de algo, de tudo. E mesmo longe, ele parece ser a previsão mais precisa e iluminada. Por isso, abra os olhos, e desloque os seus lábios. Uma palavra ou duas podem mudar muitas coisas, talvez toda uma destinação, e talvez algumas pequenas grandes coisas. Andar sobra essa linha juntamente com as ondas oceânicas não é algo tão simples de realizar. Por isso tome cuidado com os passos em falso, eles são o necessário para um desequilíbrio total. Os espiões saíram da água. Como um fugitivo, não tente chamar a atenção daqueles que te olham cautelosamente, embora eles já estejam rindo e questionando os seus princípios.

Caminhe, tente ser rápido e equilibrista, você tem um objetivo, quer encontrar o pedaço do seu coração que lhe roubaram, o mais precioso. Pequenas sombras brancas piscam e você as perde, está desnorteado. Apenas mais uma parte do sistema, obstáculos ópticos. Não desista. Nós somos todas as coisas, é só uma questão de descoberta. Abra os olhos.



sábado, 12 de junho de 2010

Sem destinário


O destino é muito bom comigo por me fazer estar ali com você, pois se nós não tivéssemos nos encontrado nesse mundo, minha tola crença em sonhos certamente teria continuado a mesma.

Meus braços enroscados em você fazem os meus sentimentos aflorarem-se fortemente, apesar de eu dissimular tudo isso. Cada momento que nós gastamos juntos assimila-se a um tesouro precioso que eu guardo no baú do meu coração.

Não consigo simplesmente parar e ficar em qualquer outro lugar que não seja perto de você, te olhando meticulosamente. Todos os seus traços possuem um toque de perfeição, e é quase impossível descravar os meus olhos de ti, assim como livrar-se da gravidade é algo inalcançável.

Sou um detetive, pois desvendei o mistério do meu amor, desde a primeira vez que você segurou a minha mão e tomou posse do meu coração. Sim, eu tenho testemunhas para esse caso, apesar delas nunca terem sido expressas. Três simples pequenas palavras engasgadas em minha garganta: eu te amo. Sigilo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Desejos



Silêncio. Era o único estado em que o garoto conseguia ficar, era a única maneira para se concentrar. Ninguém conseguia vê-lo ali, ao menos aparentemente. Porém embaixo daquele cobertor velho ele conseguia enxergar tudo, era mais fácil agora.

O cheiro de mofo trazia de volta lembranças esquecidas de volta à mente, o cheiro daquele mês. A iluminação da lanterna era hesitante, oscilando entre determinação e desânimo. Suas mãos modelavam um pequeno objeto de madeira, um carrinho, que há muito tempo havia sido esquecido no recanto do seu quarto. Um das rodas da carruagem estava solta, era ela o motivo para o abandono e também o objetivo do garoto, recolocá-la no lugar. Não demorou muito para que isso se desse feito, era apenas uma questão de encaixe, que no início soara mais aterrorizante e difícil de realizar.

Rapidamente o menino apressou-se em despir-se daquele véu amarelado e extenso que lhe encobria e correu para o salão de festas onde todos estavam, feições ansiosas compunham a sua face. Puxou alguns tecidos finos no meio do salão, mas tentativa fora falha, pois ninguém havia notado o tom suplicante de sua voz, era como se ela estivesse acoutada pela melodia da rapsódia.

Nenhum vento ou cachoeira poderiam detê-lo até pouco tempo, mas depois logo veio a agitação de uma inundação. O garoto então voltou para a cozinha decepcionado, seus esforções haviam contemplado o vazio. Entrou no forno e ali permaneceu, assim como o carrinho encontrava-se estilhaçado ao chão de carvalho.