sábado, 9 de outubro de 2010

Escuro

O céu nublado acentua a obscuridade da noite onde a minha única fonte de luz surge da chama de uma vela, que se consume a cada instante. Meus ossos doem tanto quanto a minha mente e os meus ouvidos, e não se tem mais nada a fazer além de rabiscar algumas palavras inválidas. Hesito em olhar para os lados a cada vez que o ponteiro do relógio cumpre mais uma volta, e sempre acabo por cair na tentação, mas  nada encontro, nada que possa entorpecer as minhas dores. Mais uma olhada incerta, dessa vez para a vela , que por vezes derrama um pouco de cera sobre a madeira escura da mesa. Ela me ignora, e eu volto a limitar-me aquele papel.
Minha respiração ofega, e a minha garganta encontra-se completamente ressecada. Massageio ligeiramente as têmporas, mas nada me faz voltar. Resolvo deixar aquela sala vazia e ir até a rua, talvez algo pudesse alterar o meu estado.
Algumas sombras vagam carregando luzes inconstantes nas mãos, e minha visão torna-se ainda mais incapacitada. Conto trinta segundos mentalmente, fitando aquele cenário, e em seguida volto à antiga sala. Aconchego-me novamente na cadeira e seguro o grafite. Uma brisa gélida penetra pela porta entreaberta e dissipa a pequena chama à minha frente. Suspiro maquinalmente, e deixo o lápis escorregar por entre os meus dedos. Queria apenas mais uma vela.





Deângela

3 comentários:

  1. A solidão, a escuridão, a noite... Inspira demais né? rsrs
    Inspirou-se muito, muito mesmo. Ficou lindo!
    Parabéns! :*

    ResponderExcluir
  2. Fiz uma grande viagem agora lendo o seu texto. Envolveu! Gostei! :)

    ResponderExcluir
  3. Tem uma lembrancinha para você no blog!!!
    Abraço!

    ResponderExcluir