sexta-feira, 2 de julho de 2010

Miosótis



Os raios de sol penetravam pelo vidro da janela e iluminavam todo o cômodo assim como ao seu sorriso. Suas mãos acariciavam as minhas madeixas negras e eu apenas procurava me manter intacta. Nenhuma brisa me acalentava tanto como a sua respiração, assim como nenhuma ressonância acalmava tanto os meus ouvidos como a dos seus batimentos cardíacos. Algumas palavras saltavam por entre os seus lábios, mas eu não conseguia identificar de forma precisa os seus significados, estava ocupada demais fitando as miosótis que eu trouxera da minha terra e procurando alguma forma de entregá-las a ti. Porém nada me vinha a mente, aquelas cinco pétalas só me traziam lembranças d passado, de todos os momentos que havíamos passado. Faziam-me desfrutar de toda aquela mentira que eu alimentara um dia, e que ainda continuava mantendo. Era difícil apreciar os seus olhos, sorrir diante de suas brincadeiras, e por isso eu estava ali perto de ti, para frustrantemente tentar acabar com algo que nunca começara, a não ser em minha imaginação aguçada.
Não tinha a devida certeza do que iria fazer, entretanto sabia que tinha que fazer. Então posicionei minha mão sobre a sua e direcionei os meus olhos aos seus, pela primeira vez desde que eu chegara ali o meu olhar confrontava o seu. As palavras que despencavam de sua boca cessaram durante um minuto. Desvirei sua mão sobre a mesa de forma que os traços em toda a sua superfície ficassem visíveis, e deixei que as miosótis caíssem vagarosamente sobre ela. Em seguida, entrelacei os meus dedos aos seus, sentindo não só a sua pele quente, mas também a maciez das flores, e sussurrei “Nunca te esquecerei”. Algumas lágrimas deslizaram pela minha face enquanto a maçaneta da porta cumpria o seu ângulo final.

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